Queridos companheiros de módulo, inaugurando os assuntos que nos interessam, copiei e colei um texto publicado recentemente na newsletter do www.idanca.net por Gustavo Bittencourt do coletivo Couve-Flor minicomunidade artística. O texto é super provocativo na medida em que problematiza alguns clichês na auto denominada dança contemporânea e de um modo mais profundo, é um importante detonador de como tem se processado a relação entre dança contemporânea e texto/ discurso.
DEZ DICAS PARA DAR UM BOM NOME AO SEU ESPETÁCULO por Gustavo Bittencourt
Diante da oficialização do acordo ortográfico e da escassez de bons nomes de espetáculos na cena contemporânea brasileira, achei que seria uma boa oportunidade para pensar em como são elaborados e grafados os títulos de nossas peças. Com essa preocupação, procurei esboçar algumas orientações simples, mas que, acredito, podem ajudar bastante na hora de escolher. Essas dicas não servem apenas para espetáculos, mas também podem ser adaptadas a performances, intervenções, instalações, além de congressos, encontros, mostras e festivais. Veja:
1. Evite títulos cheios de pontos, parênteses, hífens, colchetes, ou coisas desse tipo. Não pode: (In)body, Ex.pe.ri.men.to, Corp[o]rea[l] etc. Não é genial, não agrada o público, não melhora o trabalho e complica a vida do pobre jornalista que redige a coitada da agenda cultural. Também não é indicado mesclar indiscriminadamente caixa alta e baixa (por exemplo, eXpeRiMenTO iNcorpÓreO), ou ainda utilizar qualquer sinal gráfico que não seja letra, pontuação ou acento.
2. Não use a palavra “corpo”, que está para nome de espetáculo assim como “atualmente” para início de redação de vestibular. Se fizer muita falta, pode substituir por “porco”, o que tornará o seu produto cultural mais atraente a qualquer público que se deseje atingir.
3. Nomes em inglês devem ser igualmente evitados. Se for muito necessário, traduza, ou mescle inglês e outros idiomas. O melhor mesmo é português. Se quiser que a sua peça tenha abrangência internacional, lembre-se de que hoje um nome italiano ou espanhol é visto com muito mais simpatia. Se tiver algum caráter étnico, procure usar iorubá ou bantu.
4. O nome não precisa explicar ou sintetizar o que a pessoa vai assistir. O nome já faz parte da peça e, quase sempre, é bem mais importante. Tudo depende dele. É a primeira coisa que o espectador vê, e em muitos casos, a única da qual se lembra depois.
5. Evite referências aos recentes avanços tecnológicos. A não ser em casos muito específicos, não devem constar na nomenclatura (e de preferência nem no trabalho) termos como “digitais”, “virtuais”, “midiáticos”, “holográficos” - principalmente se estiverem no plural. Aliás, o plural deve sempre ser usado com bastante parcimônia.
6. Não empregue, exceto por ironia, palavras reconhecidamente de uso poético, tais como: “tempestade”, “etéreo”, “olhar”, “doce”, “eflúveo”, “translúcido”, “fogueira”, “crepitar”, “sinuoso”, “sutil” etc.
7. Alguma gracinha pode ser bem-vinda, desde que seja boa.
8. Não são recomendáveis referências a tempo e espaço, qualquer relação entre os dois, qualquer relação entre os dois e qualquer outra coisa. Não pode: Espaços expandidos, Tempos coe(x)istentes, (Não)-lugares ex(p)andidos, E(x)pa(ss)os-Temp(os), e por aí vai. Substantivos como “território”, assim como outros que remetem a essa ideia (por exemplo, “mapa”, “trajetória”, “trajeto”), ainda serão aceitos nos próximos dois ou três anos. Porém, se não quiser ter o trabalho de mudar o nome de seu espetáculo brevemente, evite-os desde agora. Nunca se sabe por quanto tempo será preciso apresentar a mesma peça.
9. Ao usar um título muito longo, procure imaginar como o seu trabalho será chamado no dia-a-dia. Digamos que você, com muito esforço, chega a um nome de que gosta, por exemplo, Corpo frito em berço de rúcula com pirão de baiacu. Considere que, na prática, seu espetáculo será chamado de Corpo - termo que, como já vimos, deve ser evitado.
10. Se não for possível encontrar um nome que agrade até a hora de escrever o release para imprensa, um recurso interessante é escolher aleatoriamente uma frase de algum livro do Bukowski. Outra coisa que pode funcionar é abrir ao acaso livros de arqueologia, engenharia elétrica, mecânica de automóveis etc. Se não souber manusear ou não dispuser de livros, é possível usar “bukowski”, “engenharia”, “automóveis” como termos de pesquisa no Google[1].
No mais, é importante dizer que a escolha do título é tão importante quanto ensaiar, produzir, apresentar. Um bom título não favorece apenas o seu trabalho, mas também ajuda a embelezar os roteiros culturais de nosso país. Portanto, escolha com responsabilidade.
[1] Eu mesmo fiz a experiência, pesquisando esses termos em conjunto. Cheguei a excelentes resultados logo nas primeiras páginas. Alguns exemplos: “Uma tecnologia barata e limpa”, “Charles em falta”, “Bukowski estava errado: lavo louça”, “Coquetel”, “A arte da enganação em termos técnicos”, “O João Gilberto aquele filho da puta”, “Várias coisas que não sei fazer na vida”, “La maquina de follar (106 views)”
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O item 1 é bem visto rsrs
ResponderExcluirO item 2 não entendi a substituição do "porco".
6. Não empregue, exceto por ironia, palavras reconhecidamente de uso poético, tais como: “tempestade”, “etéreo”, “olhar”, “doce”, “eflúveo”, “translúcido”, “fogueira”, “crepitar”, “sinuoso”, “sutil” etc.
Esses exemplos que ele deu realmente é muito amplo pra dar um nome a um espetáculo, performances .... mas, podem haver um nome mais focado num contexto poetico sem ironizar.
Enfim,no geral pelo que li, nada pode ser totalmente não ultilizado, depende muito do contexto, que não necessariamente precisa ser ironico.