segunda-feira, 20 de abril de 2009

Relatório do laboratório proposto por João, em 13 de abril.

A minha proposta de laboratório surgiu na reflexão das idéias que levaram à construção da minha cena (exercício proposto em sala), na qual eu me mantinha de frente para um espelho, vendado, com uma camiseta de educação física da Aeronáutica e provando saias. Percebi que, de alguma forma, trabalhava ali com a idéia de que muito da coreografia proposta culturalmente para o sexo oposto está em nós. Esse "flerte" acontece a todo momento. Esse seria um dos fatores que mostram o equívoco nas falas que ouvimos com frequência "isso é coisa de mulher", "só homem faz isso", etc., que categorizam ações e comportamentos a esse ou àquele gênero.

Partindo desse princípio, cheguei a conclusão de que o Gayboying trabalha essa "mistura", já que propõe uma ilustração alegórica da coreografia dos dois gêneros. Esse estilo de dança (para muitos pode ser muito mais uma estilização do que um estilo propriamente dito) pode ser descrito como tendo princípios de wacking e vogueing (movimentos de dança do Hip Hop negro americano) e uma apropriação dos gestuais gays (masculinos) e das mulheres negras americanas. Lembrando que ao descrever essas movimentações pertencendo à esses grupos, faço referência aos estereótipos midiáticos e cênicos que temos acesso.

Daí partiu essa idéia de trabalhar com o Gayboying e sua possível "masculinização".

Iniciei o laboratório com um pequeno alongamento (dando ênfase ao pescoço, tronco e braços, já que essas partes do corpo possuem um destaque maior nessa dança, e muitas torções são feitas) proposto por mim e depois uma caminhada em sala, pedindo que "andassem como modelos, soltando os quadris como 'as divas'", já trazendo a estética do Gayboying.

Depois passei uma sequência, com cerca de 20 segundos de duração, que trouxe pronta para eles. Por falta do tempo necessário, tive que diminuí-la um pouco e não pude dar uma ênfase maior às trocas de dinâmica (forte versus suave, cortado versus sinuoso), muito presentes nas movimentações. Passada essa fase, pedi que eles se organizassem em duplas e, em 10 minutos, masculinizassem a sequência o máximo possível.

Exemplo em vídeo do trecho da sequência "normal" e "masculinizada", feita por Joélia e Mayana:



Os resultados foram surpreendentes. Acredito que mais pelo fato de não ter feito a eles uma pergunta a qual sabia a resposta. Não tinha imaginado como aquela sequência ficaria se fosse masculinizada. Com esse exercício pude ver mais claramente como as posturas e os trejeitos desses estereótipos são tão bem categorizados. A maioria das meias-pontas e das torções de tronco foram deixadas de lado, dando lugar a movimentos mais firmes e fortes, na maioria das vezes dando ênfase aos bíceps e tríceps. Claro, o que seria dos homens sem seus braços fortes?

Após isso, mostrei alguns vídeos exemplificando o que seria o Gayboying. Mais precisamente de aulas, clipes e coreografias em shows que trazem essa estética. Esse momento foi muito pequeno, e queria ter mostrado-os com um pouco mais de tempo e discuti-los, já que me parece muito interessante a aceitação e difusão midiática de algo proveniente (em sua maior parte) da sub-cultura gay. Que resultados isso pode trazer?

Chegamos então à discussão. Comecei perguntando sobre as mudanças na coreografia. O que foi modificado? Por que foi modificado? Dentre as pequenas variações, o mais comum foi a retirada das torções e dos movimentos sinuosos e muito curvilíneos. O homem foi encenado como "mais quadrado" (fala de Alana). Thiago trouxe um pouco a idéia de que tipo de intenção existe no movimento. Qual seria a intenção gay e qual seria a intenção do homem heterossexual? O último parece sempre exibir os músculos, mostrar força.

Mayana chegou a discutir brevemente a música, dizendo que ela remete a um grupo específico de homens e às movimentações desses homens. A minha escolha musical não foi aleatória. Poderia escolher qualquer música ou ritmo para trabalhar "uma dança que funda os dois gêneros", mas decidi me reter ao R'n'B (muito obrigado pela correção, Simone!), para que tudo ficasse focado no ambiente que apresentei.

Fiz um questionamento ao grupo. Existe uma referência alegórica de lésbica? Ao imitar uma (com todos os perigos e equívocos que esse tipo de ação pode levar), não estaríamos imitando um homem? Alana trouxe um reflexão interessante. Ela disse que a performance do gay (estereótipo) não corresponde a mulher, mas a performance da lésbica (estereótipo) corresponde ao homem. Depois de ver os vídeos da discussão e voltar a pensar no assunto para escrever esse relatório, cheguei a conclusão de que isso talvez aconteça pelo fato de que tudo que foge ao normativo da neutralidade masculina é destoante. Por isso mulheres vestidas "como homens" passariam mais despercebidas do que homens vestidos "como mulheres".

Inicialmente achava que traria somente um recurso estético, mas percebi que o laboratório levou a questionamentos e reflexões muito interessantes para mim, e acredito que também para o grupo. Gostaria de agradecer a turma pela disposição propositiva durante o laboratório que propus e dar um aviso: o tempo foi meu inimigo! Tentem organizar ao máximo suas idéias na hora de propor o laboratório para que tudo caiba nas poucas 2 horas disponíveis. É só.



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