RELATORIO DO LABORATÓRIO DE CORPO E CRIAÇÃO
por DIEGO VITORINO
por DIEGO VITORINO
Professores: Antrifo Sanches e Fernando Passos
Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem por reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."
Fernando Pessoa
Culturalmente, politicamente falando, já somos influenciados a partir das crenças, hábitos e /ou costumes existente em cada país e a cada local, então já estamos inseridos no Eu comunitário, como padrões PRÉ estabelecidos num âmbito em que saí dela já nos torna “diferente”. Somos como cenário: é o espaço real ou virtual onde a história se passa, somos como objetos com cores, texturas, estilo, mobiliário todos com a finalidade de caracterizar o personagem. A sociedade impõe, as vezes massacra o cenário de um gay,negro, pobre se tratando do PRÉ conceito, e na maioria das vezes eles costumam ser o que não é, e para evitar constrangimentos, são obrigados ou ate mesmo por ser involuntário mudar sua postura, jeito de falar, agir,de se vestir para inibir e se “enquadrar” nessa sociedade. Outros não se importam, mais continuam sendo alvo dos olhares, das piadas, da desvalorização como pessoa sendo percebido no laboratório de Thiago no Shopping Piedade em Salvador.
A partir desses questionamentos me deparei com algumas perguntas que consequentemente vai gerando outros: Quem sou eu? Como me vêem? Será que eu sou como me vêem ou que acham que eu sou?
Parando para refletir por mais que seja involuntário ou não somos constantemente influenciados e modificados do ontem para o hoje, claro, mas, hoje você é realmente você ou a política e a cultura esta impreguinada e faz com que você seja “normal” para o publico e alienado para o seu in, seu inconsciente? E existe o verdadeiro eu? Quando eu me pergunto quem sou eu, sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta? Conflitante.....Podemos ter respostas para algo, mais ainda falta responder outras gerados a partir das respostas anteriores. Para questionar sobre o Eu nos dividimos, fazemos outro cenário com dois ou mais objetos que discutem sobre si, mas ao mesmo tempo é o mesmo objeto.
Diante de muita “bolha”, conflitos, resolvi aplicar esse laboratório tirando da parte teórica e introduzindo a prática como objeto de estudo de como exercer e responder as perguntas utilizando também o corpo físico.
A Aula
Fiz um breve aquecimento e alongamento de corpo e utilizei três formas de alongamento:
1. Alongamento Obrigatório: dado por mim do jeito e da maneira em que eu como propus o laboratório teria o direito de fazer. No sentido em que tudo na vida às vezes por imposição social, cultural, político o que já esta impreguinado no mundo, e também por questão de ordem, há um certo distanciamento entre cargos em que seu comportamento deve ser diferente, por educação, por respeito e até para não entrar em atrito e perder o emprego, por exemplo. Você as vezes ta ali obrigado, fingindo está aparentemente bem mas a forma o jeito as atitudes distanciam do que realmente você é! Você não deixa de ser o que é mais não concorda com tipos de relações, logo há modificação de um jeito que gostaria de ser, mas não pode devido aos costumes feitos pelo próprio homem.
2. Alongamento de como você está acostumado a fazer, por questões físicas, ensinadas, pesquisadas, necessidade. Pensando também num outro ponto de vista social, como você estivesse no seu momento de fazer o que você quer, ter sua liberdade.
3. Alongamento que você não esta acostumado a fazer, por dor, por não gostar. Partindo no mesmo princípio do 1 mas com a liberdade de tomar a decisão de não querer sem prejudicar sua normalidade,como pessoa física e social.
Esse alongamento é apenas um despertar para perceber o quanto somos podados, o quanto somos modificados e influi no comportamento.
Após o alongamento pedi para que a turma fizesse uma, célula, seqüência uma cena ou outra classificação para em que fosse representada a pergunta em que iria propor para o corpo físico, não distanciando da mente, obviamente, é apenas um direcionamento de um foco maior.
1. Quem é você? (seu modo de ser, de agir, seus comportamentos e qual sua especificidade na técnica da dança, e aqueles que não obtém de uma técnica especifica mais que tem uma linguagem clara de uma movimentação que os agrade corporalmente).
Já ouve questionamentos de: como eu vou fazer isso? Ai meu deus! Como vou representar eu mesmo?
2. O que você não é, mas está acostumado a ser (por questões culturais, sociais, políticos, de como você é "podado" ou se automanipula consciente que não é você, mais para não "desagradar" a cultura que é imposta, se faz ser o que você não é) e, que não tem nada a ver com você em uma determinada especificidade corporal havendo a técnica ou não.
Foram elaborados e efetuados os dois cenários separadamente. A partir daí pedi que eles fizessem uma “mistureba”, a união das duas células e que o publico iria classificar se aquela determinada coreografia era ou não realmente da pessoa. Após as classificações o cenário iria fazer sua “célula tronco” assim chamada por Fernando Passos, era a coreografia original, a verdadeira na qual você realmente se acha ser ou é, partindo do princípio individual interna e perceptível ao Eu sendo avaliado como espelho. O eu e eu, ou o eu e o outro, você.
O interessante é que o público tem o pensamento, a priori, já destacada na imagem do ser e faz sua auto análise na qual muitas vezes é confundida e /ou interpretada de uma outra maneira, e é ela que na maioria das vezes classifica o cenário sem conhecer realmente como foi feito, já ver o trabalho pronto e não se dar o luxo de observar a fundo suas qualidades e defeitos. Então, o sujeito pode enganar facilmente e pode ser classificado como ser o verdadeiro Eu, de um ponto de vista in ou pelas pessoas que por sua vez partindo de um ponto de vista de fora reconhece muitos fatores que o próprio cenário não identificava. Para construção do Eu se leva em conta seus pensamentos e os pensamentos dos outros? O que você acha que é, se modifica quando o outro (público) fala sobre você?
“eu sei que estou e que tenho significado a partir do olhar do outro mas não sei
como é o que eles vêem em mim. (Thiago Assis - aluno UFBA - Dança). Thiago também fala se é influenciado por como vêem e acham o que é:
“Agora a coisa ficou profunda... E eu vou ter que me deter as explicações do Freud... rs... Ele em sua teoria defende que o sujeito é constituído pelo ID/ EGO/ SUPEREGO... O ID está ligado aos nossos instintos, ele é o nosso inconsciente, irracional. Já o SUPEREGO o herdeiro do complexo de Édipo, esse seria o regulador dos nossos comportamentos, funcionando como sensor dos valores morais, que geralmente são instituídos pelas questões éticas que norteiam aquele contexto. O EGO seria o "eu" que tem muito do ID regulado pelo SUPEREGO, e se tudo isso for levado em conta... é claro que aquilo que é proposto pelo coletivo (sociedade) influência nas minhas atitudes que não necessariamente dizem tudo sobre os meus comportamentos....”
O eu se modifica involuntariamente ou não. Mas, não é definição do hoje porque já de modificou ontem e vai modificar amanhã.
Diego,
ResponderExcluirNão pude estar presente em seu laboratório, mas a partir do seu relatório gostaria que você refletisse: corpo e mente são coisas separadas na dança? E no cotidiano?
É possível falar apenas da mente, mas quando se fala de corpo não dá pra excluir a mente. A mente está no corpo e não separada dele. Tome cuidado com a reprodução recorrente do discurso cartesiano dualista corpo/mente.
A frase “aqueles que não obtém de uma técnica especifica”, ficaria melhor “aqueles que não trabalham com uma técnica específica”.
A sentença “o que você não é, mas está acostumado a ser” é complicada, já que ninguém, de fato, está acostumado a ser o que não é. Todo mundo é o que é, mas em diferentes papéis ou diferentes comportamentos a partir de diferentes contextos.
Quem é gay, é gay, e não deixa de ser gay por causa do ambiente. Muda-se o comportamento para esconder o ser gay, mas continua-se sendo gay.
Nós somos muito influenciados pelo olhar do outro, mas isso não me faz deixar de ser eu mesmo quando estou à frente daquele olhar. Posso disfarçar algumas coisas, mas continuo sendo eu mesmo.
Sinto falta de uma conclusão no relatório. Ele termina de repente. Quais resultados foram alcançados? Como você avalia sua proposta?
Essas pequenas coisas são necessárias em relatórios.
Bjs
Antrifo