RELATÓRIO – Laboratório de Corpo e Criação
Por Mayana Magalhães
A proposição do laboratório se consolidou a partir das discussões sobre a tentativa de reconhecer qual (is) fator (es) determinaria (m) um indivíduo como homem ou mulher. Esse laboratório não tinha uma hipótese de qual (is) seria (m), mas várias hipóteses, muitas dúvidas. Acreditava inicialmente que existiriam clichês, elementos freqüentemente repetidos que colaborariam com essa classificação.
É comum ver alguém na rua e, inconscientemente ou não, identificá-lo como homem ou mulher. Ainda que se identifique como homossexual (segundo o padrão de homem efeminado e mulher masculinizada), ou quando há dificuldade para fazer essa definição, a confusão só existe porque se “quer” saber se é um homem OU uma mulher e não uma terceira, quarta, quem sabe quinta opção.
No entanto ao se tratar de repetições e clichês, trata-se de estereótipos e, conseqüentemente, de pré-conceito. Numa observação feita a uma maneira de se vestir, falar, andar de alguém, ou num texto que se lê, muitas associações são feitas a partir da grande quantidade de informações contidas nessas representações. Todavia quando isso ocorre subentende-se que todas essas relações são conseqüências de padrões pré-estabelecidos.
Com o intuito de fomentar essas discussões, foram exibidos slides de adivinhação cuja tarefa era tentar identificar os homens e as mulheres e os fatores que colaboravam para chegada a tais conclusões. Ainda com muitos erros, foi conversado que sobrancelhas extremamente desenhadas, bocas e olhares muito definidos, excesso de maquiagem, enfim, o exagero, a alegoria tende à artificialidade - neste caso, identificada no homem numa configuração feminina ou na própria mulher com sua exacerbação. Porém em seguida foram apresentados slides com fotos de Roberta Close e a indicação foi identificar esses mesmos fatores citados por eles. Ouve muito alvoroço, pois nada daquilo cabia para as fotos de Roberta Close.
Mais tarde, cada pessoa da turma recebeu um papel que poderia conter informações nas seguintes formas: página de Orkut, música, recorte de biografia e texto de blog (formato de diário). Em seguida foi proposto que fosse elaborada por cada pessoa uma seqüência que seria a que cada um entendia como coreografia daquela pessoa cujas informações contidas no papel se referiam/relacionavam. Porém duas pessoas recebiam a mesma informação (exceto João), mas propositadamente a turma não estava ciente disso. Vale salientar também que quando a informação não se referia a alguma pessoa popular, era a alguém que eu conhecia exatamente para observar semelhanças e divergências, mas a turma também não sabia que se tratava de pessoas conhecidas, pois não tinha acesso aos nomes originais.
As duplas foram:
Loraine e Natália Matos – Recorte de biografia de Christiane Torloni
Maria Paula e Natália Rosa – Recorte de biografia de Clodovil
Simone e Evie – Página de Orkut de Luiza*
Alana e Carol – Texto de Blog de Luciana*
Thiago e Victor – Página de Orkut de Luiz*
João – Recorte de biografia de Lula
Diego e André – Música de Erasmo Carlos “Dá Um Close Nela”. Existem comentários de que a música faria referências à Roberta Close
*pseudônimos
As performances variaram bastante, mas em algumas pude encontrar vários pontos de aproximação com suas respectivas duplas como as de Alana/ Carol e Diego/ André. No entanto a turma só declarou perceber essas conexões a partir do momento em que cada pessoa falava um pouco do seu personagem (antes da leitura ou revelação da figura e/ou nome).
Ficou mais que evidente que a forma de se reconhecer o outro vai variar de acordo com as vivências, experiências, etc. de cada um. E já que não existe um indivíduo igual ao outro...
_Algumas questões_
O fato de ter um pênis ou uma vagina define uma pessoa como homem ou mulher? E quando ocorre de um indivíduo ter os dois órgãos (aparentemente) ou nenhum dos dois (se é que posso falar assim)?
A judoca Edinanci Silva, em 1996, teve que se submeter a um exame de feminilidade aplicado pelo Comitê Olímpico Interna-cional (COI). Os médicos diagnosticaram a interse-xualidade em Edinanci e ela precisou fazer cirurgia de orquiectomia bilateral (retirada dos testículos – que neste caso eram internos) e clitoridectomia (reconstituição do clitóris – que tinham um tamanho muito maior que o comum*). O tratamento envolveu um trabalho para reduzir a quantidade de hormônio masculino testosterona no organismo - era de 60% da carga total de hormônios - e deixá-la em condições de passar em dois exames de feminilidade do COI: o de existência de genitália feminina (vagina) e o de níveis de hormônio masculinos até 5% do total.
*usei esse termo, tendo em vista que casos como esse são raríssimos.
_Algumas falas_
Após leitura do trecho:
“Parabéns para mim, que Deus me abençoe e que vocês possam refletir um pouco sobre tudo que escrevi.” (Blog)
Joline – “É evangélica!”
Durante a exibição de uma foto dos slides de adivinhação:
Antrifo (com toda convicção) – “É homem sim! Ó o gogó!” (mas era mulher...rsrs)
Durante a exibição das fotos de Roberta Close seguida dos argumentos de definição de homens e mulheres:
Natália Matos – “Nosso discurso perdeu toda a validade”
Após exibição dos slides de adivinhação:
Antrifo – “Se nenhum de nós conhecêssemos Paris Hilton e ela estivesse entre essas fotos, iríamos dizer que ela era homem!”
Edinanci Fernandes da Silva
Paris Hilton
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